10 de March de 2022 | Medicina do Estilo de Vida
Por volta do ano de 1990, o historiador Roger Ekirch se deparou com um documento que conta a história do assassinato da mãe de Jane Rowth. Elas viviam em uma pequena aldeia no norte da Inglaterra e seu relato à polícia conta como sua mãe saiu de casa à noite com dois homens e nunca mais voltou.
O historiador procurava documentos para compor seu livro sobre o sono, ou melhor, as horas noturnas. Nos documentos de Jane algo lhe chamou a atenção, era a expressão “primeiro sono”. O historiador relata que no depoimento ela comenta que mãe e filha haviam acabado de acordar do primeiro sono da noite, como se fosse algo normal e natural.
Analisando documentos históricos, ele percebeu que isso era algo extremamente comum. Ekirch encontrou registros de sono dividido em dois em diversos textos como cartas, artigos de jornal, diários e livros médicos. Esse hábito não era só encontrado na Inglaterra do século XVII, mas também em regiões como França, Itália, África, sul e sudeste asiático, Oriente Médio e também no Brasil.
O esquema de sono era assim, das 21 às 23 horas era o primeiro sono e então as pessoas despertavam naturalmente para realizar algumas tarefas até por volta da 1 hora da manhã. Esse período era chamado de “vigília”, as pessoas botavam lenha no fogo, tomavam remédios, faziam orações e praticavam sexo entre outras atividades domésticas. Após a vigília existia o segundo sono, conhecido como sono “da manhã” que durava até o amanhecer.
Outros animais também dividem o sono em dois ou até mais períodos, esse comportamento proporciona vantagens, permanecendo acordados nas horas mais benéficas do dia para conseguir comida e se esconder de predadores.
Será que esse padrão ainda existe hoje? Recentemente, um cientista do sono chamado Thomas Wehr, realizou uma experiência onde 15 homens foram isolados em quartos totalmente escuros e sem qualquer iluminação artificial durante a noite, após quatro semanas o sono dos pesquisados se dividiu em dois, de forma biológica e natural.
Na revolução industrial foi quando tudo mudou, o desenvolvimento da luz artificial elétrica proporcionou para a população ficar acordada até mais tarde e modificou o ritmo circadiano das pessoas. No final do século XX o sono bifásico havia desaparecido completamente.
Mas não devemos ficar preocupados com isso. O século XXI, de acordo com Ekirch, trouxe muitas vantagens para os sono, pois as pessoas podem dormir de forma muito mais confortável e segura em suas camas modernas. As condições do ambiente e do estilo de vida mudaram ao longo da história e o padrão monofásico atual não deve ser considerado ruim. Portanto, cuida da sua higiene do sono e aprenda técnicas de relaxamento, vamos falar mais sobre isso em um novo texto no futuro.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-59992577