03 de May de 2022 | Especialidade Médica
A síndrome do intestino irritável (SII) é um desafio para a visão mecanicista da medicina tradicional, os sintomas de dor abdominal, diarréia, flatulência e alterações do hábito intestinal estão frequentemente associados à alterações do humor como depressão, ansiedade e irritabilidade. Com isso essa condição é frequentemente classificada como um transtorno funcional, onde não existe uma causa biológica evidente ou identificável.
O Dr. Muhammad Yunus, um importante reumatologista, considera a SII dentro do espectro das síndromes de sensibilização central, neste mesmo grupo estão a fibromialgia, a enxaqueca e outros distúrbios "funcionais". Em comum essas doenças estão relacionadas a uma hiperatividade do sistema nervoso central e frequentemente associadas a diferentes forma de sofrimento psicossocial crônico. A SII afeta cerca de 16% do brasileiros, ou seja, uma frequência semelhante a da enxaqueca. Uma das possíveis explicações para os sintomas é a disbiose, um desequilíbrio entre bactérias "boas" e "ruins" que fazem parte da nossa microbiota intestinal, o que produz uma inflamação de baixo grau da mucosa e interfere no funcionamento normal do nosso intestino.
Cerca de 90% dos pacientes tem os sintomas exacerbados após o consumo de alimentos, o que leva a maioria deles à limitar o consumo. Pensando nisso, a primeira linha de tratamento são mudanças no padrão alimentar. A dieta mais utilizada atualmente para reduzir os sintomas é uma dieta com baixa quantidade de FODMAPs, um acrônimo para monossacarídeos, dissacarídeos e oligossacarídeos fermentáveis e polióis, que descrevem um grupo de carboidratos pouco absorvíveis e rapidamente fermentados pelas bactérias intestinais. Na prática a dieta limita a ingestão de carboidratos encontrados em produtos à base de trigo, cebola, alho, legumes, laticínios e muitas frutas e vegetais. Porém, nem todos os pacientes com SII tem benefício com a dieta baixa em FODMAPs e acredita-se que o consumo regular pode piorar a disbiose e levar a deficiências nutricionais. Já as dietas plant-based, como a dieta do mediterrâneo, são conhecidas pelo seu efeito anti-inflamatório e protetor contra a disbiose intestinal.
Mas ao mesmo tempo poderiam piorar os sintomas da SII onde a disbiose já está instalada. Para tentar esclarecer essa questão está em andamento na Grécia uma pesquisa utilizando uma combinação de uma dieta baixa em FODMAPs e a dieta do mediterrâneo. A expectativa é que essa associação possa reduzir os sintomas ao mesmo tempo que trata a disbiose e promove o reequilíbrio da flora bacterina de forma natural e saudável. Vamos ficar atentos aos resultados em breve. Você tem SII? Comente que tipos de dietas você já experimentou e quais foram os resultados.
Fonte: Kasti, A., Petsis, K., Lambrinou, S., Katsas, K., Nikolaki, M., Papanikolaou, I. S., Hatziagelaki, E., & Triantafyllou, K. (2022). A Combination of Mediterranean and Low-FODMAP Diets for Managing IBS Symptoms? Ask Your Gut! Microorganisms, 10(4), 751. https://doi.org/10.3390/MICROORGANISMS10040751